domingo, abril 15, 2007

Comentários de Shopping no blog "putamadrecabron"



shopping & fucking
A concepção me incomodou muito. E incomoda mais, porque tecnicamente, é tudo muito bom.O espetáculo tem um grande problema: os atores deveriam falar em inglês. Também ajudaria bastante se o teatro fosse em Londres ou Nova Iorque.Shopping & Fucking, de Mark Ravenhill, tradução de Laerte Mello, produção de Mário Dias e Direção de Fernando Guerreiro está em cartaz no Teatro Molière, Aliança Francesa - infelizmente localizado em Salvador, em plena ladeira da Barra - e é um bom espetáculo. Eu aplaudi de pé. E sinceramente.O texto é uma das estrelas da recente dramaturgia inglesa, encenado pela primeira vez em 1996, e agregado ao estilo In-Yer-Face Theatre, algo como "Teatro direto na sua cara". É uma história de drogados com problemas, algo como Trainspotting, mas a história interessa menos. O texto é um discurso de choque. As cenas, os personagens e as situações é que contam. A história é só uma história.Os atores estão muito bem. Celso Jr., nervoso (talvez só nesse dia) mas bem, Rodrigo Frota e Jussilene Santana formam uma excelente dupla, Edvard Passos e Emiliano D'Ávila também. A luz cumpre bastante bem sua função, sem exageros. A trilha sonora poderia ser melhor. O cenário é inacreditavelmente bom, coisa de mágico, posto que não se lê "patrocínio" no programa.Dá gosto de ver um trabalho tão bem feito. O texto é bom, a equipe é boa, o diretor é competente, o cenário é mágica. Porque então a sensação de que algo está errado, do começo ao fim?O último espetáculo de Guerreiro que eu vi foi Um Bonde Chamado Desejo, também no Teatro Molière. Saí com a impressão de ter visto um filme dublado. O mesmo dessa vez. Os personagens no texto original são ingleses, e ao que parece, a idéia da direção foi mantê-los ingleses, lá de Londres, ou Manchester, ou qualquer outro lugar. O resultado é que apesar de tudo muito amarrado, você não acredita nesses personagens, não viaja com eles. É tudo coerente e não é. Difícil acreditar nesses brasileiros, baianos, cearenses, vivendo ingleses. Brancos, loiros, com camisa do Lakers, mascando chiclete e tudo, mas não são ingleses. Não são gringos. E aí alguma coisa fica pela metade. Nenhum deles é o Ewan McGregor e não existe correspondente em português para o sotaque inglês. Adotar o sotaque do Jornal Nacional não ajuda. São gringos que não são gringos. Ou não o suficiente. Fica falso. Uma tradução de voz sem tradução de corpo e a atmosfera fica estranha. E você escuta a mensagem mas ela não te pega, já que em nenhum momento você conseguiu embarcar com os personagens porque tem alguma coisa de alienígena neles.São opções que me incomodam. Mas claramente opções e não erros. Além disso, cenas um pouco mais longas do que precisavam ser, fazem com que você leve um tempo pra pegar o ritmo e o tempo do espetáculo. Nada grave. As cenas de sexo acontecem no limite do "bom gosto", mas não decepcionam. Entre os trunfos, estão as brigas, os ataques verbais, as frustrações, os combates em cena dos personagens que geram momentos espetaculares e mostram o talento do autor, a competência do diretor e o brilhantismo do elenco.Vale ver. No fim do espetáculo, sentia incômodo, por ser tudo muito bom MAS a concepção ser esquisita. Aplaudi de pé, pois vi um trabalho de qualidade. Quem encara o público no fim do espetáculo é o elenco e não o diretor. Aplausos de pé, porque o trabalho deles merece.

08 de abril de 2007

by Camilo Fróes

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