Shopping and Fucking volta a cartaz na SALA DO CORO do TCA
O espetáculo Shopping and Fucking, com direção de Fernando Guerreiro, volta a cartaz em curtíssima temporada no dia 17 de agosto (sexta-feira), às 20h, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. No elenco, Jussilene Santana (melhor atriz Braskem em 2005), Celso Jr., Edvard Passos, Rodrigo Frota e Emiliano d´Avila. O espetáculo foi um sucesso de público e crítica em sua temporada na Aliança Francesa. A equipe do espetáculo ainda é composta por Euro Pires, na cenografia, Fábio Espírito Santo, iluminação, e a dupla de estilistas Soudam e Kavesky, na concepção do figurino. A produção do espetáculo é de Mário Dias.
Shopping and Fucking prossegue até o final de agosto, de sexta a domingo, sempre 'as 20h. Os ingressos custarão sempre R$ 16 e R$ 8 (meia) .O texto do inglês Mark Ravenhill é um drama que acompanha o cotidiano de um triângulo amoroso e seu envolvimento com o mundo das drogas, do sexo pago e da violência. O espetáculo mostra a série de esquemas em que o grupo se envolve para continuar sobrevivendo numa grande cidade, desde o roubo até à venda de sexo por telefone, entre outras transações.
Neste universo onde a fé na condição humana parece estar extinta nada escapa do consumo desenfreado. A questão que perpassa a encenação é: Tudo estará mesmo à venda? Daí que indiretamente se questione se qualquer coisa pode ser objeto de troca, de uma permuta comercial, até mesmo os laços pessoais e sexuais. Neste território onde todas as transas são possíveis, o consumismo substituiria nossos antigos códigos morais?
A primeira vez que Shopping and Fucking veio a público foi no Royal Court, em Londres, em 1996, logo se tornando um grande sucesso e percorrendo várias cidades da Inglaterra. A peça causou frisson imediato pela ousadia no trato com a temática homossexual, sendo tachada inclusive de exibicionista e chocante.A crítica enérgica presente no texto de Ravenhill, porém, sobreviveu à sua imediata leitura sexual, mesmo passados dez anos.
Ao longo da década, Shopping and Fucking foi montada com sucesso de público e crítica nos EUA, Itália, França, Espanha, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Hungria, Lituânia, Estônia e África do Sul, em todos estes países assumindo uma aura de espetáculo cult. Também nestes últimos dez anos, a estética gay foi muito apropriada pela sociedade de consumo, abrandando parte do estranhamento ao tema. O texto já foi encenado no Brasil, em 1999, com direção de Marco Ricca, tendo Silvia Buarque e Rubens Caribé no elenco.
A amoralidade niilista dos personagens de Ravenhill permite mesmo essa leitura mais chocante, mas por outro lado há material em Shopping and Fucking para se perceber um profundo sentido ético no retrato que o autor faz da sociedade capitalista contemporânea. Para ele, a globalização e as atuais forças econômicas tentam fazer em fiapos nossos laços comunitários. Mas, como o próprio Ravenhill afirma: "Há sempre um momento em que minhas personagens reconhecem que têm que cuidar umas das outras".
Apesar de rejeitar o título de teatro político convencional (que seria um teatro engajado), o discurso de Ravenhill - tanto em seus textos quanto entrevistas - é quase sempre político. Em Shopping and Fucking ele trabalha com temas recorrentes, como a crítica irônica à sociedade de consumo, à globalização e as transações comerciais como base para as relações humanas.
Ravenhill escreve sobre a cena urbana de maneira eloqüente e com diálogos ágeis.
Em suas cenas fragmentadas, há referências à cultura pop, aos desenhos animados da Disney e à literatura clássica. Em Shopping and Fucking há citações: ao musical infantil O Rei Leão, à peça As Três Irmãs, de Tchecov, a Romeu e Julieta, de Shakespeare, aos canais de tele shopping, aos snuff films (filmes de acidentes e mortes reais) e às onipresentes câmeras de TV. Já os nomes das personagens são tomados de empréstimo do grupo Take That, uma versão inglesa da boy band New Kids on The Block.
Seus temas e diálogos também sugerem aproximações com outros produtores do cinema e teatro contemporâneos como David Mamet, David Lynch, Quentin Tarantino e Irvine Welsh (autor de Trainspotting). Outros textos de Mark Ravenhill são Fausto está morto (1997), Handbag (1998), Polaroids Explícitas (1999) e, mais recentemente, Citizenship, The Cut e Product (todos de 2005).
Jussilene Santanajunesantana@gmail.com