quinta-feira, março 29, 2007

Mais Comentários de Shopping and F**cking!!!!


Logo quando entrei no teatro me senti atraído pela atmosfera do palco: um cadillac isolado ao centro, refletores em tons levemente amarelados remetendo a postes de rua e a discreta fumaça flutuando ao som de um jazz. O submundo de Mark Ravenhill estava ali, diante de meus olhos , num belo teaser do que viria a se seguir. Já tinha "comprado" o espetáculo só pela sua aura cinematográfica. Uma comédia sombria que mistura (claro) bons diálogos - o texto é deliciosamente indigesto - com atuações isoladas.Jusssilene como Lulu (deliciosa!) prende o tempo todo o jogo das relações com seus companheiros pseudo-libertinos (Mark, Gary e Robbie), e Celso Jr. (Brian) surge como uma espécie de coro prenunciando e desafiando a pluralidade dos sentidos daqueles jovens. Percebi que, durante boa parte do tempo em que Brian estava dando o texto - ainda quando o carro está na posição inicial - a luz estourada " apagava" o rosto do ator e, conseqüentemente, eu não conseguia enxergá-lo bem; o que me fez indagar sobre a concorrência da interpretação do texto com o excesso de luminosidade naquela cena.Ainda no início, quando Edvard Passos (Mark) está no volante e solta suas primeiras frases, fiquei desconfortado com sua dicção um tanto impostada (que melhorou rasoavelmente depois do 1º ato) e com o pára-brisa cobrindo-lhe o rosto - eu estava sentado mais ou menos na quinte fileira, pro lado esquerdo e na platéia de baixo. E em se tratando de naturalidade, Jussilene Santana foi a única que me fez mergulhar na personagem sem eu precisar pensá-la, racionalizá-la... . Os outros tiveram uma atuação correta, respitando a cartilha da personagem; porém, nunca oferecendo uma tridimensionalidade à atuação. Rodrigo Frota como Robbie enxerguei o Rodrigo Frotta das aulas de Desempenho I com Harildo; Emiliano D`Ávila é o tipo (correto) pra fazer Gary, mas nos momentos de memória emotiva em que se lembra do pai não toca, não emociona; ficando só na forma e declamando o texto. Celso tinha momentos em que me remetia a Kevin Spacey - principalmente nas cenas com Lulu - e outros, meu professor de sala de aula. Com um brilhante trabalho estético, Shopping and Fucking encanta pelos figurinos pop, pelo uso do cadillac como metáfora dos bingos! e perdas das personagens; pela combinação de idas e voltas para o mesmo lugar e pela segurança do ritmo que poucas vezes se perde. Mas vale a pena ressaltar que a bifurcação de luz, cores e plasticidade - me lembrei dos filmes de Peter Greenway (!) - é o grande trunfo do espetáculo, que horas fala mais alto que o trabalho de ator, outras menos.


Espetáculo visto no Teatro Molière
3 estrelas em 5

quarta-feira, março 28, 2007

Comentário do Caderno Dez! A Tarde: "Sexo, compras e videotapes"


Se você começar a ler esse texto querendo saber se a peça Shopping & Fucking, dirigida por Fernando Guerreiro [em cartaz no Teatro Moliére desde o dia 16], é boa ou ruim, é melhor parar por aqui. Essa resposta eu não tenho. Gosto banstante de algumas coisas e outras me incomodam profundamente. Mas aí vão dizer que sou moralista e tal. Não são as cenas envolvendo sexo, secreções e fluidos corporais que me incomodam [embora tenham quase levado ao infarto uma tia que sentou ao meu lado]. Me incomodam alguns excessos do texto, passagens longas e pretensamente metafóricas e alguns deslizes estriônicos de alguns atores, que no geral apresentam atuações eficientes, com destaque para Emiliano d'Ávila. Com total domínio do personagem, o rapaz desconserta a platéia com facilidade. A peça conta a história de quatro jovens perdidos na metrópole e a relação com seus desejos legítimos ou impostos pela sociedade de consumo. Lulu [Jussilene Santana], Mark [Edvard Passos], Robbie [Rodrigo Frota] e Gary [Emiliano d´Ávila] formam um quadrado amoroso baseado em interesses diferentes [sexo, paixão ou dinheiro], mas que vez por outra coincidem. Junkies e sem grana, após a partida de Mark, Robbie e Lulu acabam na mão de Brian, um traficante de drogas [Celso Jr.]. Mark encontra no garoto de programa Gary a dependência psicológica que substitui a sua dependência química, mas Gary não quer estar no comando. Quer entregar sua vida nas mãos de alguém. A concepção minimalista do cenário de Euro Pires é outro elemento que gostei bastante e acho que vale ser mencionada. Um carro vermelho apoiado numa estrutura giratória serve de casa e rua. É nele que toda a ação acontece. O texto do londrino Mark Ravenhill, que já foi montado em mais de 50 países, é cínico, engraçado, incômodo. Com referências que vão do Rei Leão a Tchecov, ele se aproxima da tendência só-para-chocar que rolou na década de 90 em relação às questões jovens como no livro Transpotting, de Irvine Welsh, ou no filme Kids, de Larry Clark. Há quem pense que a história tem uma moral. Acreditar nisso me faria odiá-la. Acho que Ravenhill te dá opções. Você é que precisa decidir qual vai comprar. SHOPPING & FUCKING Teatro Molière, Aliança Francesa [Ladeira da Barra] Sexta, sábado, 21h [R$ 20] e domingo, 20h [R$ 24]. Até 17 de junho.


21/03/2007 às 13:49

por Pedro Fernandes

domingo, março 11, 2007

Mário Dias - The Producer


Acreditem: não é simples. Produzir para teatro hoje na Bahia é tarefa sobre-humana, ainda mais sem patrocínio fixo! Ainda mais sendo uma montagem ousada e provocativa, ainda mais sendo um drama! Bom, tarefa para poucos... E foi o produtor Mário Dias quem topou o desafio. Mário já produziu para teatro, dança e música. No seu currículo estão Alzira Power, Senhorita Júlia, e mais recentemente, Minha amiga mente para mim e Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas. Em música, produziu shows da Confraria da Bazófia, O Cumbuca, Marcia Short e Clécia Queiroz. Ele sozinho vale por uma produção.


terça-feira, março 06, 2007

TERRITÓRIO DE TODAS AS TRANSAÇÕES I

Estréia dia 16 de março (sexta-feira), às 21h, no Teatro Mòliere, na Aliança Francesa, o espetáculo Shopping and Fucking, com direção de Fernando Guerreiro. No elenco, Jussilene Santana (melhor atriz Braskem em 2005), Celso Jr., Edvard Passos, Rodrigo Frota e Emiliano d´Avila.
A peça estréia para convidados e imprensa no dia 15 (quinta-feira), também às 21h. A equipe ainda é composta por Euro Pires, cenografia, Fábio Espírito Santo, iluminação e a dupla de estilistas Soudam e Kavesky, na concepção do figurino. A produção do espetáculo é de Mário Dias. Shopping and Fucking prossegue até 17 de junho todas as sextas e sábados, às 21h, e domingo, às 20h. Os ingressos são R$ 24 e R$ 12 (meia) na sexta e sábado e R$ 20 e R$ 10 (meia), aos domingos.O texto do inglês Mark Ravenhill é um drama que acompanha o cotidiano de um triângulo amoroso e seu envolvimento com o mundo das drogas, do sexo pago e da violência. O espetáculo mostra a série de esquemas em que o grupo se envolve para continuar sobrevivendo numa grande cidade, desde o roubo até à venda de sexo por telefone, entre outras transações. Neste universo onde a fé na condição humana parece estar extinta nada escapa do consumo desenfreado. A questão que perpassa a encenação é: Tudo estará mesmo à venda? Daí que indiretamente se questione se qualquer coisa pode ser objeto de troca, de uma permuta comercial, até mesmo os laços pessoais e sexuais. Neste território onde todas as transas são possíveis, o consumismo substituiria nossos antigos códigos morais?

TERRITÓRIO DE TODAS AS TRANSAÇÕES II


A primeira vez que Shopping and Fucking veio a público foi no Royal Court, em Londres, em 1996, logo se tornando um grande sucesso e percorrendo várias cidades da Inglaterra. A peça causou frisson imediato pela ousadia no trato com a temática homossexual, sendo tachada inclusive de exibicionista e chocante.
A crítica enérgica presente no texto de Ravenhill, porém, sobreviveu à sua imediata leitura sexual, mesmo passados dez anos. Ao longo da década, Shopping and Fucking foi montada com sucesso de público e crítica nos EUA, Itália, França, Espanha, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Hungria, Lituânia, Estônia e África do Sul, em todos estes países assumindo uma aura de espetá em todos eles assumindo uma aura de espetmediato contesta e chocante. ogo se tornando um grande sucesso e percorrendo vculo cult. Também nestes últimos dez anos, a estética gay foi muito apropriada pela sociedade de consumo, abrandando parte do estranhamento ao tema. O texto já foi encenado no Brasil, em 1999, com direção de Marco Ricca, tendo Silvia Buarque e Rubens Caribé no elenco.
A amoralidade niilista dos personagens de Ravenhill permite mesmo essa leitura mais chocante, mas por outro lado há material em Shopping and Fucking para se perceber um profundo sentido ético no retrato que o autor faz da sociedade capitalista contemporânea. Para ele, a globalização e as atuais forças econômicas tentam fazer em fiapos nossos laços comunitários. Mas, como o próprio Ravenhill afirma: "Há sempre um momento em que minhas personagens reconhecem que têm que cuidar umas das outras".
Apesar de rejeitar o título de teatro político convencional (que seria um teatro engajado), o discurso de Ravenhill - tanto em seus textos quanto entrevistas - é quase sempre político. Em Shopping and Fucking ele trabalha com temas recorrentes, como a crítica irônica à sociedade de consumo, à globalização e as transações comerciais como base para as relações humanas.
Ravenhill escreve sobre a cena urbana de maneira eloqüente e com diálogos ágeis. Em suas cenas fragmentadas, há referências à cultura pop, aos desenhos animados da Disney e à literatura clássica. Em Shopping and Fucking há citações: ao musical infantil O Rei Leão, à peça As Três Irmãs, de Tchecov, a Romeu e Julieta, de Shakespeare, aos canais de tele shopping, aos snuff films (filmes de acidentes e mortes reais) e às onipresentes câmeras de TV. Já os nomes das personagens são tomados de empréstimo do grupo Take That, uma versão inglesa da boy band New Kids on The Block.
Seus temas e diálogos também sugerem aproximações com outros produtores do cinema e teatro contemporâneos como David Mamet, David Lynch, Quentin Tarantino e Irvine Welsh (autor de Trainspotting). Outros textos de Mark Ravenhill são Fausto está morto (1997), Handbag (1998), Polaroids Explícitas (1999) e, mais recentemente, Citizenship, The Cut e Product (todos de 2005).

Celso Jr. – Brian


O professor, ator e diretor teatral Celso Jr. comemora 20 anos de teatro com o espetáculo Shopping and Fucking. Mestre em Teoria e Crítica da Literatura, Celso começou sua carreira na Cia. Baiana de Patifaria estreando Abafabanca, em 1987, com direção de Fernando Guerreiro, com quem volta a trabalhar após duas décadas. Depois, fez o curso livre com Luiz Marfuz, apresentando o espetáculo Sim. A partir de 1992, iniciou uma frutífera carreira como diretor. Dirigiu Quem matou Maria Helena, um sucesso que ficou nove anos em cartaz. Foi indicado ao Braskem de melhor ator com o espetáculo Budro.

Jussilene Santana – Lulu


Ganhadora do prêmio Braskem 2005 como melhor atriz por Budro, Jussilene Santana vem se destacando há dez anos no cenário cultural de Salvador. Professora e Mestre em Artes Cênicas, em 2004 foi indicada ao Braskem como melhor atriz coadjuvante. No ano anterior, interpretou Senhorita Júlia, de August Strindberg, sob a direção de Ewald Hackler, que a dirigiu também em A Mulher sem Pecado e em inúmeras leituras dramáticas. Na TV, fez A mulher de roxo, com direção de Fernando Guerreiro. Em 2006, fez os filmes Jardim das Folhas Sagradas e Estranhos. Como jornalista, ganhou os prêmios Banco do Brasil (2003), ABI (2004) e Troféu Coelba de Reportagem (2003).

Edvard Passos – Mark


Aluno da Escola de Teatro, formado em arquitetura. Seu último espetáculo foi Raul Seixas, fazendo Plínio Seixas, irmão do cantor baiano. Com Guerreiro, trabalhou em Flicts, O Inspetor Geral e Deus. Atuou em Maria Quitéria, de Deolindo Checcucci, e Anjos no Espelho, de Gideon Rosa e Tom Carneiro. Fez ainda Over Duplo, com direção de Elisa Mendes.

Rodrigo Frota - Robbie


Aluno da Escola de Teatro, cearense radicado na Bahia, atuou nos espetáculos 1º. de Abril, Latin in Box, Subúrbia e Fogo Possesso. Já recebeu dois prêmios de atuação em Fortaleza. É aluno do sétimo semestre de interpretação. No Ceará, finalizou o Colégio de Direção Teatral, tendo aulas com Zé Celso, Antunes Filho, Antonio Mercado e Celso Nunes.

Emiliano d´Avila - Gary


Aluno da Escola de Teatro, que participou de várias montagens didáticas da instituição. Fez nove anos de teatro amador com grupo do Colégio São Paulo. Atuou em Sábado, Domingo e Segunda, com direção de Harildo Deda, entre outras. Fez o microdrama Ponto de Interrogação, com direção de Lino Almeida (POTE-2005).

O Cenógrafo: Euro Pires


Euro Pires é artista plástico que há anos vem se destacando na criação de cenários, figurinos e adereços de espetáculos e shows em Salvador. Assinou o cenário das peças Os Amantes II, Irmã Dulce, Vixe Maria Deus e o Diabo na Bahia e Em Busca do Sonho Perdido.

O Iluminador: Fábio Espírito Santo

Fábio Espírito Santo é diretor e iluminador. Dirigiu o espetáculo Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas com a Companhia Teatro dos Novos, escreveu o texto e fez a iluminação da montagem Diferentes Iguais. Também vem participando de direções de vídeos como Detalhes e Onde está Lynch? .

Os figurinistas: Soudam & Kaveski


A dupla de estilistas Ismael Soudam e Valéria Kaveski criam há anos os figurinos de estrelas da música baiana como Carlinhos Brown e Margareth Menezes. Agora participam da equipe de Shopping and Fucking.

Serviço e Ficha Técnica

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