quarta-feira, março 28, 2007

Comentário do Caderno Dez! A Tarde: "Sexo, compras e videotapes"


Se você começar a ler esse texto querendo saber se a peça Shopping & Fucking, dirigida por Fernando Guerreiro [em cartaz no Teatro Moliére desde o dia 16], é boa ou ruim, é melhor parar por aqui. Essa resposta eu não tenho. Gosto banstante de algumas coisas e outras me incomodam profundamente. Mas aí vão dizer que sou moralista e tal. Não são as cenas envolvendo sexo, secreções e fluidos corporais que me incomodam [embora tenham quase levado ao infarto uma tia que sentou ao meu lado]. Me incomodam alguns excessos do texto, passagens longas e pretensamente metafóricas e alguns deslizes estriônicos de alguns atores, que no geral apresentam atuações eficientes, com destaque para Emiliano d'Ávila. Com total domínio do personagem, o rapaz desconserta a platéia com facilidade. A peça conta a história de quatro jovens perdidos na metrópole e a relação com seus desejos legítimos ou impostos pela sociedade de consumo. Lulu [Jussilene Santana], Mark [Edvard Passos], Robbie [Rodrigo Frota] e Gary [Emiliano d´Ávila] formam um quadrado amoroso baseado em interesses diferentes [sexo, paixão ou dinheiro], mas que vez por outra coincidem. Junkies e sem grana, após a partida de Mark, Robbie e Lulu acabam na mão de Brian, um traficante de drogas [Celso Jr.]. Mark encontra no garoto de programa Gary a dependência psicológica que substitui a sua dependência química, mas Gary não quer estar no comando. Quer entregar sua vida nas mãos de alguém. A concepção minimalista do cenário de Euro Pires é outro elemento que gostei bastante e acho que vale ser mencionada. Um carro vermelho apoiado numa estrutura giratória serve de casa e rua. É nele que toda a ação acontece. O texto do londrino Mark Ravenhill, que já foi montado em mais de 50 países, é cínico, engraçado, incômodo. Com referências que vão do Rei Leão a Tchecov, ele se aproxima da tendência só-para-chocar que rolou na década de 90 em relação às questões jovens como no livro Transpotting, de Irvine Welsh, ou no filme Kids, de Larry Clark. Há quem pense que a história tem uma moral. Acreditar nisso me faria odiá-la. Acho que Ravenhill te dá opções. Você é que precisa decidir qual vai comprar. SHOPPING & FUCKING Teatro Molière, Aliança Francesa [Ladeira da Barra] Sexta, sábado, 21h [R$ 20] e domingo, 20h [R$ 24]. Até 17 de junho.


21/03/2007 às 13:49

por Pedro Fernandes

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